Lendo o livro “A Loja de Tudo — Jeff Bezos e a Era da Amazon”, de Brad Stone, me deparei com estes trechos:
“Em um evento externo da gerência no final dos anos 1990, um time de executivos juniores bem-intencionados ficou diante das altas patentes da empresa e fez uma apresentação sobre um problema comum a todas as grandes organizações: a dificuldade de coordenar divisões geograficamente distantes. Eles recomendaram diversas técnicas para estimular o diálogo entre os grupos e, depois da apresentação, pareciam orgulhosos da própria criatividade. Então, Jeff Bezos, com o rosto vermelho e a veia da testa latejando, começou a falar. ‘Entendo o que estão dizendo, mas vocês estão completamente enganados’, ele disse. ‘Comunicação é um sinal de disfunção. Significa que as pessoas não estão trabalhando de forma unida e orgânica. Deveríamos tentar encontrar uma forma de fazer as equipes se comunicarem menos, e não mais.’”
“O argumento aparentemente absurdo de Bezos era que a coordenação entre os funcionários cria um desperdício de tempo e que as pessoas mais próximas dos problemas geralmente são as que podem resolvê-los. Isso passaria a representar algo semelhante à sabedoria convencional da indústria high-tech na década seguinte. As empresas que abraçaram essa filosofia — como o Google, a Amazon e, mais tarde, o Facebook — em parte usavam lições aprendidas a partir de teorias sobre o desenvolvimento enxuto e ágil de softwares. Em seu inovador livro sobre tecnologia, ‘O Mítico Homem-mês’, Frederick Brooks, veterano da IBM e professor de ciência da computação, alega que adicionar mão de obra a projetos de software complexos na verdade atrasa o progresso. Uma razão para isso seria que o tempo e o dinheiro gastos na comunicação aumentavam proporcionalmente o número de pessoas envolvidas em um projeto.”
Confesso que, inicialmente, fiquei angustiado com o que li. Afinal, a grosso modo, todos sempre acreditaram que quanto mais comunicação, melhor. Mas a passagem que Bezos protagonizou me desafiou a analisar melhor sua motivação.
A matemática é clara: quanto mais momentos de comunicação, menos de produção. A comunicação é importantíssima, mas quando deixa de ser produtiva, passa a onerar os custos. Com menos tempo de dedicação às entregas, mais custa produzir, menos soluções inovadoras são encontradas, mais descumprimento de prazos e por aí vai.
O que nos leva a crer que o objetivo a ser buscado não é simplesmente aumentar os momentos de trocas e interações, mas torná-los mais eficientes e objetivos. É a síntese das metodologias ágeis. Mas o quanto a comunicação deve ser rápida para não onerar custos e o quanto deve ser tranquila, humana, cuidadosa e coberta por uma redoma intocável para funcionar?
A comunicação das equipes é necessária para que:
— todos estejam no mesmo nível de entendimento sobre os objetivos do trabalho;
— todos saibam e concordem sobre por que estão realizando aquele trabalho;
— cheguem nas melhores soluções;
— os mais novos ganhem conhecimento com os mais experientes e, um dia, possam trabalhar melhor;
— a cultura da empresa esteja presente, percebida, sentida, introjetada e vivida por todos, e deixe de ser apenas um quadro na parede;
— possamos cuidar uns dos outros, sentir as inseguranças, apoiar-nos como time, sermos empáticos e não um banco de máquinas cumprindo metas.
E por aí vai. A lista é infindável!
Depois das fisiológicas, a comunicação é nossa necessidade mais importante. Algumas vezes pode até vir antes: por exemplo, quando precisamos perguntar onde é o banheiro — (alívio cômico). Mas a realidade é que o ser humano só se desenvolveu como sociedade porque conseguiu se organizar através da comunicação. Imaginem lidarmos uns com os outros sem palavras, sem balbucios, sem gestos, sem movimentos, sem expressão alguma. Não nos reproduziríamos. Nem existiríamos.
Não sei exatamente o que Bezos pensa e o quanto ele liga para o lado humano do processo. O plano de dominação mundial da Amazon está aí para nos fazer pensar. Mas a reflexão que trouxe é importante avaliarmos qual o limiar da comunicação dentro das organizações. Devemos estar atentos para descobrir quando — o quanto e como — a comunicação deixa de ser útil e passa a atrapalhar.
O que temos que buscar não é aumentar, mas melhorar a comunicação, em todos os aspectos possíveis. Além de medir, claro, para aprender.
Entre o “Quem não se comunica se trumbica”, de Chacrinha e o “Comunicação é um sinal de disfunção.” de Bezos, para cada situação há um ponto de equilíbrio que é a chave da eficiência.
Você está fazendo certo?
A Incomum trata a comunicação como uma necessidade inerente ao ser humano e a sua evolução, mas procura entender onde é que ela se encontra com a eficiência. Fale com a gente que podemos lhe ajudar a encontrar o seu ponto de equilíbrio.
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