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Pela primeira vez, a Incomum participa de uma campanha eleitoral, justamente na de Paula Mascarenhas, que saiu vitoriosa para a Prefeitura de Pelotas. Aqui, deixamos um relato sobre essa experiência, o posicionamento da agência e os aprendizados do processo.
Na época de nossa fundação, há 21 anos, éramos apenas quatro sócios, e os colaboradores variavam de zero a dois. Costumávamos dizer, mais por bom-humor do que propriamente por perspectivas de crescimento, que não trabalharíamos com política, cigarros e bebidas alcoólicas. Não era apenas por uma questão ideológica. As grandes agências se posicionavam assim, e ainda bastante imaturos, achávamos bonitinho e repetíamos igual. Como política sempre foi algo obscuro em nosso país, a colocávamos ao lado de produtos com malefícios à saúde. Essa restrição acabou prevalecendo e, mesmo depois de crescermos um pouco e conquistarmos clientes de abrangência nacional, mantivemos o mesmo mantra. Inclusive, se me perguntassem sobre o assunto há uns três meses atrás, acho que responderia o mesmo.
Mas logo no período de maior crise política no Brasil, demos com a língua nos dentes. Recebemos o convite de Paula Mascarenhas para fazer sua campanha para Prefeitura de Pelotas: “Eu e o Eduardo gostamos de vocês e do olhar que têm sobre a cidade“. A Incomum trabalha há mais de uma década para a Fenadoce e isso, certamente, contribuiu para formar essa imagem. Assim, descobrimos que a admiração que já nutríamos por eles era recíproca e avançamos no namoro.
Não somos partidários. Eu mesmo já votei no PT, no PSOL, no PSDB… Ou melhor, não votei nos partidos — nunca gostei de partidos —, votei nas pessoas. Pessoas como Eduardo Leite e Paula, que ao longo do mandato se mostraram inspiradores para nós. Eles são jovens, trazem novos olhares, não têm os vícios da velha política — aliás, são totalmente contrários a ela —, são competentes e obstinados. “Não trabalharíamos para ninguém mais senão vocês.” Fiz questão de frisar.
Porém, não foi tão fácil aceitar o convite. Tivemos várias dúvidas e nos questionamos muito até decidirmos. Não foram questões éticas ou morais, pois tínhamos, e temos mais ainda agora, convicção do caráter dessas pessoas. O que nos deixava aflitos era nossa inexperiência no segmento político; a responsabilidade que nos estava sendo confiada. Não poderíamos fracassar. Paula já liderava as pesquisas antes mesmo de iniciar a campanha. “E se desse tudo errado?” “E se Paula não fosse eleita?” “Será que eles confiam mais na gente do que nós mesmos?” “Por que querem a gente?“
Para buscar a decisão e as forças para tomá-la, olhamos para nossos pilares: inovação, verdade, bem-comum e entusiasmo. Não faltava nenhum nesse job. Estavam todos lá. Mas o que mais nos impulsionou foi o bem-comum: “fazer o maior bem possível para o maior número possível de pessoas”. E, aí, ficou fácil: “estamos dentro!”.
Iniciamos uma maratona de aprendizado sobre o cenário do pleito local, com o apoio inestimável, carinhoso, generoso e altamente qualificado da cientista política Elis Radmann, do IPO. Imergimos nos candidatos, constatamos suas verdades, suas personalidades, forças, oportunidades, ameaças, fraquezas… Criamos três pilares de comunicação que dariam o norte e que, no decorrer da campanha, se reconfirmaram verdadeiros. Assim, os mantivemos até o final. Fomos atacados como qualquer candidatura de situação. É de praxe. Mas as pessoas conhecem a verdade, pois vivem a verdade. Nosso programa de TV foi acusado de mostrar uma cidade de mentira, como se as pessoas e as cenas retratadas não existissem. Mas elas estão lá para quem quiser ver. Só não vê quem não quer. Repetíamos a cada 30 segundos: “ainda há muito para ser feito”.
Também nos taxaram de termos uma produção “milionária”, quando, na verdade, todos sabem quanto custa uma câmera, um drone e um computador. O que faz a diferença são as pessoas, a equipe que se monta, os talentos. Inclusive, fomos elogiados várias vezes pelos adversários, seja nos debates, seja em declarações diversas. A equipe de produção e mídias sociais foram casos à parte. Não vou discorrer sobre seus talentos pois ficou evidente no resultado final. Mas o que mais me impactou foi o clima, o ambiente. Nunca presenciei nenhum sentimento ruim, de raiva ou ódio, para com os adversários, desde à cúpula da campanha, até o “chão de fábrica”. O respeito esteve sempre presente. Passei a admirar ainda mais Eduardo e Paula, pela simplicidade, correção, comprometimento com as pessoas e suas necessidades.
Muita gente me dizia que gostava da Paula mas não votaria nela por causa do partido. Como já disse, não admiro nenhum deles. Infelizmente, o sistema eleitoral brasileiro exige filiação para apresentar uma candidatura. Mas posso dizer com todas as letras que as pessoas que conheci não são “golpistas”. Cada um de nós tem sua verdade e respeito todas elas.
Além da vitória, o resultado prático de tudo isso foi 23% de incremento nas intenções de voto, desde a pesquisa que antecedeu a campanha até a última, dois dias antes do pleito (pelas urnas 24%). O que foi fruto da estratégia de comunicação e o que foi fruto do conhecimento maior que as pessoas passaram a ter da Paula, eu não sei. O que sei é que não há propaganda que resolva produto ruim. É insustentável. Tenho dito por aí que se a campanha de todos se resumisse a um banquinho em frente a um fundo branco, Paula venceria de qualquer forma, pois transmitiria maior confiabilidade, carinho e verdade.
Participamos de uma jornada vencedora, que fez história na cidade. Foi a primeira mulher eleita prefeita e a maior quantidade de votos que alguém já teve.
Em 2015, a Incomum ajudou a reformar uma praça na Balsa, em uma imersão que, até então, havia sido a mais marcante da minha vida. Em 2016, a Incomum ajudou na reforma de uma cidade. E isso é motivo de sobra para se orgulhar.